Por Jorge Herbert
Enviaram-me hoje um texto escrito pelo antigo e por três vezes primeiro-ministro da República de Cabo-Verde, pelas mãos do PAICV, o Sr. José Maria das Neves.
Essa apresentação do autor do dito texto é intencional, uma vez que situa o autor do texto, não só na sua tendência política, como também nos seus atos enquanto governante.
Quanto a afinidades sentimentais do Sr. José Maria das Neves para com a Guiné-Bissau, soou-me à uma monótona hipocrisia, que o próprio autor não conseguiu disfarçar, ao não conseguir colocar emoção nas palavras que quis transmitir.
Mas isso é de somenos importância, porque não duvido que as caraterísticas naturais do meu país, a simplicidade, a humildade e a hospitalidade do seu povo, costuma cativar qualquer estrangeiro que visitar aquela terra.
Durante todo o seu percurso político e três vezes como Primeiro-ministro, só hoje o Sr. José Maria das Neves acordou e apercebeu-se que a Guiné-Bissau nunca teve estabilidade política?
Lembro a detenção de Bubo Na Tchuto pela DEA, tendo como principal objetivo falhado afastar António Indjai da Guiné-Bissau e consequentemente do cargo de CEMGFA, que teve a colaboração das autoridades caboverdeanas, duvido muito que não foi com o devido conhecimento do então governo da República de Cabo-Verde, na altura chefiado pelo Sr. José Maria das Neves.
Quando a dita Comunidade Internacional sancionou os militares guineenses, por culpa dos políticos, onde estava o Sr. José Maria das Neves, para tentar fazer entender à essa dita Comunidade Internacional que o grande problema da Guiné-Bissau são os conflitos dentro do PAIGC, que acabam sempre por envolver os militares?
O Sr. José Maria das Neves como político experiente, durante a crise política instalada na IX legislatura na Guiné-Bissau, alguma vez aconselhou o seu amigo e líder do PAIGC, a mandar o seu então fiel súbdito Cipriano Cassamá desbloquear o funcionamento da Casa da Democracia, para o bem da Guiné-Bissau e do seu povo? O quanto ama esse país e o seu povo Sr. José Maria das Neves!
Como político experiente, o Sr. José Maria das Neves alguma vez aconselhou ao seu amigo Eng. Domingos Simões Pereira, na qualidade de líder partidário, a respeitar a mais alta figura da magistratura guineense, durante a IX legislatura guineense, abandonando o constante exercício da diabolização da sua figura? Julgo que nunca o fez, porque aquilo que todos os guineenses viram foi um ex-Primeiro-Ministro Caboverdeano a despir-se das vestes que esse honroso passado lhe atribuiu, para se colocar no lugar de um qualquer bardamerda caboverdeano, deslocando-se ao solo guineense, para em tons jocosos tecer considerações sobre o exercício presidencial na Guiné-Bissau…
Com a responsabilidade política que devia ter, mas que parece esquecer-se sempre que se intervém em relação à Guiné-Bissau e em nome da boa relação entre os dois países, o Sr. José Maria das Neves não devia ter feito algo para frenar as ameaças que um irmão do líder do PAIGC emitia às mais altas figuras do Estado guineense, a partir do solo caboverdeano,?
Onde estava José Maria das Neves, quando a CEDEAO emitiu uma lista de guineenses sancionados, aparentemente por encomenda, sem ouvir o contraditório dos sancionados? Na altura não interessava analisar as incoerências da CEDEAO!
Será que alguma vez o Sr. José Maria das Neves aconselhou o seu amigo Eng. Domingos Simões Pereira a assumir uma postura democrática e aceitar o veredito popular que lhe colocou no lugar de derrotado nas últimas eleições presidenciais?
Será que o Sr. José Maria das Neves alguma vez interrogou-se sobre a possibilidade de a instância judicial caboverdeana equivalente ao Supremo Tribunal de Justiça Guineense, alguma vez aceitar analisar o recurso de um contencioso que não existiu previamente nas devidas instâncias que gerem o processo eleitoral, como a Mesa eleitoral, a Comissão Regional e por fim a Comissão Nacional das Eleições? É que, por esse andar, não me admirava absolutamente nada que nas próximas eleições caboverdeanas apareça um candidato do PAICV derrotado, a reclamar diretamente para as instâncias judiciais superiores, sem nunca ter apresentado qualquer reclamação nas instâncias que gerem o processo eleitoral!
Sr. José Maria das Neves, sabe porque é que não lhe causa surpresa que a CEDEAO reconheça Úmaro Sissoco Embaló como Presidente da República? Porque dentro do seu âmago e do seu amigo líder do PAIGC, sabem quem foi o justo vencedor das últimas eleições presidenciais na Guiné-Bissau. Aliás, em conformidade com o reconhecimento do seu próprio amigo, na chamada telefónica que fez ao candidato vencedor, felicitando-o pela vitória…
Percebe-se mesmo que José Maria das Neves é da escola derivada do PAIGC! É que, sempre que o PAIGC se sente verdadeiramente afastado do poder e sem possibilidade de bloquear o exercício desse mesmo poder, assumem o mesmo discurso de sempre, com que o Sr. José Maria das Neves termina o seu texto, apelando à “reconciliação nacional, em busca de acordos e consensos…”
Jorge Herbert