Bissau (Lusa, 10 de Abril de 2013) - O alegado envolvimento da Presidência e do Governo guineenses no tráfico de droga internacional poderá ser especulação, defendeu hoje na Cidade da Praia o representante especial do secretário-geral da ONU para a Guiné-Bissau.
José Ramos-Horta, que chegou hoje de madrugada a Cabo Verde para uma visita de menos de 48 horas consagrada à situação na Guiné-Bissau, indicou que uma leitura atenta da acusação não implica nem o presidente Serifo Nhamadjo nem o primeiro-ministro Rui de Barros.
“Não me cabe comentar o que vem alegado nas acusações, mas devem ter notado que alguém disse apenas ‘vamos falar com o presidente e com o primeiro-ministro’ e não se disse mais nada, se falaram ou não com ambos e o que terão dito”, afirmou o antigo presidente de Timor-Leste (2007/12).
“Isso pode acontecer, especulativamente falando, que os interessados na rede do negócio estavam a querer aparentar maiores conexões, invocando o nome do presidente e do primeiro-ministro da Guiné-Bissau. Mas nada mais aparece ali (na acusação)”, acrescentou aos jornalistas, no final de um encontro com o chefe da diplomacia cabo-verdiana, Jorge Borges, que não falou à imprensa.
“Isso pode acontecer, especulativamente falando, que os interessados na rede do negócio estavam a querer aparentar maiores conexões, invocando o nome do presidente e do primeiro-ministro da Guiné-Bissau. Mas nada mais aparece ali (na acusação)”, acrescentou aos jornalistas, no final de um encontro com o chefe da diplomacia cabo-verdiana, Jorge Borges, que não falou à imprensa.
José Ramos-Horta, prémio Nobel da Paz em 1996, acrescentou que a recente detenção do antigo chefe de Estado-Maior da Marinha da Guiné-Bissau, Bubo Na Tchuto, “não tem afetado em nada” o curso do processo político guineense.
“O crime não compensa, salvo o princípio do direito da Justiça, que há a presunção de inocência até se ser declarado culpado por um tribunal. Quem estiver envolvido, direta ou indiretamente, em qualquer crime, é tempo de repensar e escolher uma nova forma de vida”, sublinhou.
“O que interessa agora é impulsionar o diálogo e a busca de uma solução política, a realização de eleições, antecedidas por um calendário eleitoral, por um novo recenseamento, por um Governo mais inclusivo, incluindo o PAIGC, e finalmente eleições ainda este ano, conforme exigem os parceiros da Guiné-Bissau”, explicou.
Para Ramos-Horta, cabe às autoridades guineenses darem passos nesse sentido, para que a segunda missão dos parceiros do país – a ONU, as uniões Europeia (UE) e Africana (UA) e as comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) – se possa concretizar (a primeira ocorreu em dezembro de 2012).
Sobre a questão do tráfico de droga, Ramos-Horta defendeu que o problema fundamental reside a montante e a jusante da Guiné-Bissau, pois a raiz está em dois polos distantes: de um lado, a Colômbia, Peru e Bolívia, que são os produtores e exportadores da droga, e, do outro, a Europa e os Estados Unidos, que a consomem.
“A África Ocidental é o ponto de passagem. Se fosse possível resolver os problemas na América do Sul, na Europa e nos EUA, a África Ocidental deixaria de ser ponto de passagem e deixaria de ser vítima”, referiu.
“É preciso também termos coragem para apontarmos o dedo à raiz do problema e não cair na situação de um país pobre, como a Guiné-Bissau, ser diabolizado quando o problema está na América Latina e na Europa”, justificou.
Ramos-Horta defendeu ser necessário combater a droga na Guiné-Bissau e na África Ocidental, considerando que tal seria “relativamente fácil” se a comunidade internacional desse mais apoios às agências da ONU que combatem o narcotráfico.
“Se se posicionassem alguns elementos efetivos muito rapidamente, a Guiné-Bissau tornava-se inacessível e não atrativa para o cartel da droga. Atualmente, não há na Guiné-Bissau nenhum elemento da UNODC porque não há financiamento da comunidade internacional”, concluiu.
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