Por LUSA
A família e os amigos de Umo Cani, a grávida guineense de 36 anos, que morreu na madrugada da passada sexta-feira, no Hospital Amadora-Sintra, com um bebé de 38 semanas de gestação, exige a demissão da ministra da Saúde, Ana Paula Martins e acusa o primeiro-ministro de não estar a cumprir o seu papel.
Em entrevista à SIC Notícias, questionada sobre a demissão do presidente do Conselho de Administração da ULS Amadora-Sintra, Paloma Mendes, amiga da mulher que morreu, realçou que "a culpa aqui não é só do presidente do Conselho de Administração do Amadora-Sintra".
"Nós temos uma ministra que, constantemente, desvaloriza os casos que acontecem no SNS, principalmente, com as grávidas. Não me podem dizer que vai ao Parlamento e não tem informações em relação a esta utente. Se nós não temos nada não podemos proferir tamanhas declarações e declarações ainda por cima ofensivas", atirou.
"Vir dizer que a Umo veio para aqui apenas para ter filhos? Quando os documentos foram todos expostos, afinal já há consultas, já há exames. A ministra nem teve a simpatia de pedir desculpas, de dizer que errou, de dizer sinto muito. Temos aqui um SNS que não trabalha, o centro de saúde faz parte da ULS, como é que não tem ligação com o hospital? Imaginem que alguém tem uma doença, essa informação não é passada para o hospital? Temos aqui um problema que ela [ministra] tem de resolver", acrescentou.
Para Paloma, "não podemos estar constantemente a virar inquéritos. Quantas mulheres, quantas situações terão de vir para as pessoas perceberem que já chega? Que não dá para continuar com esta ministra sempre a desvalorizar os casos. Há dias disse que 192 grávidas que tiveram situaçoes de partos fora do hospital eram imigrantes, que chegaram aqui com uma gravidez tardia". "Então ela que prove", exigiu, reiterando que "não dá mais".
Como lembra a amiga de Umo, o hospital só concluiu que a guineense vivia há 1 ano em Portugal, tinha residência e estava a ser seguida no centro de saúde "quando esses dados começaram a ser expostos"
"Temos aqui um problema que a ministra tem de resolver e que o primeiro-ministro também tem de resolver porque ninguém vai trazer a vida da Umo de volta nem da bebé, nenhum inquérito, nada. É preciso é evitar que outra grávida passe pelo mesmo", sublinhou, considerando ainda que "cabe ao primeiro-ministro perceber porque é que ele, até hoje, continua a aceitar e a permitir que isto aconteça".
Questionada se um pedido de desculpas mudaria alguma coisa, Paloma disse ainda que "não vai servir em nada" porque sentem que "não seria sincero" e quando "não é sincero não serve de nada". Porém, na sua opinião, "a primeira coisa que a ministra devia ter feito hoje era pedir desculpas, dizer que errou".
Segundo Paloma, a família de Umo está "a ser atacada nas redes sociais", acusada de "turismo de saúde, de não saber falar português". "A cunhada [de Umo] está cá há 20 e tal anos, é portuguesa", relembrou.
"O único pedido que faço, diretamente ao primeiro-ministro, que está sentado há semanas e semanas a ver estes casos caóticos na obstetrícia e acha que é normal esta senhora continuar à frente desta pasta. Acha que é normal ter filhos na rua, o INEM chegar atrasado, as crianças nascerem em casa? Já nem é a ministra. O meu problema é o primeiro-ministro que já foi solicitado para substituir esta ministra e nada. Não digo que ela está a ser incompetente. Se calhar não está a conseguir resolver os problemas. Mas todos nós, no nosso posto de trabalho, quando não conseguimos desempenhar adequadamente as nossas funções, somos rapidamente substituídos. Esta ministra está há um ano e meio neste cargo, o que é que melhorou?", deixou no ar.
Recorde-se que o caso está a ser investigado por várias entidades, entre as quais o Ministério Público (MP).
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Anúncio feito pela ministra da Saúde, esta segunda-feira, 3 de novembro, dias após uma mulher, de 36 anos, grávida de 38 semanas, ter morrido no Hospital Amadora-Sintra, um dia após ser vista e mandada para casa. Segundo Ana Paula Martins, houve "uma falha grave de informação" no processo.
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O Presidente da Unidade Local de Saúde Amadora-Sintra justificou hoje o pedido de demissão, alegando dever ético e responsabilidade pessoal, após análise detalhada dos factos relativos ao caso ocorrido na última semana envolvendo a morte de uma grávida.



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