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POR LUSA 02/12/22
Cerca de 6,6 milhões de pessoas do Sudão do Sul, mais de metade da população, sofrem níveis graves de fome, e muitas consomem folhas para sobreviver, alertou a Oxfam International, uma organização não-governamental.
A Oxfam International afirmou que a resposta humanitária continua "lamentavelmente subfinanciada" e advertiu que se a comunidade internacional não agir com urgência, dois terços dos sul-sudaneses - 7,7 milhões de pessoas - poderão enfrentar escassez de alimentos até 2023.
As alterações climáticas, os conflitos e o aumento dos preços dos alimentos estão a empurrar as comunidades já vulneráveis para a beira do abismo num país que sofreu cinco anos consecutivos de graves inundações, que destruíram campos e deixaram quase 70% do país inundado, forçando quase um milhão de pessoas a fugir das suas casas em busca de alimentos e abrigo.
"Neste momento vivemos com folhas de mato a crescer no rio porque não temos comida, por isso temos de comer o que está disponível", disse Marta Kangach, uma residente do estado de Jonglei que perdeu todo o seu gado e colheitas devido às cheias. "Como seres humanos, se comermos pouco em pequenas porções, suportamos e não morremos, por isso vamos ao mato e apanhamos verduras para cozinhar", acrescentou.
O apelo humanitário da Organização das Nações Unidas para financiar a resposta no Sudão do Sul está financiado em dois terços, com 1,3 mil milhões de dólares (cerca de 1,24 mil milhões de euros) angariados, contra os 1,5 mil milhões de dólares (cerca de 1,43 mil milhões de euros) angariados em 2020, um montante insuficiente tendo em conta que o número de pessoas afetadas aumentou durante este período.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) teve, então, de suspender a sua entrega de ajuda a 1,7 milhões de pessoas devido à falta de fundos, uma situação que agrava a crise e que significa que em 2023 poderá haver 9,4 milhões de pessoas a necessitar de ajuda humanitária, incluindo 1,4 milhões de crianças desnutridas.
Como resultado, o diretor nacional da Oxfam para o Sudão do Sul, Manenji Mangundu, advertiu que "as alterações climáticas, juntamente com o conflito e o aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis, empurraram o Sudão do Sul para a beira da fome".
"O povo do Sudão do Sul está a pagar o preço de uma crise climática causada por nações ricas em poluição", reiterou.
"O mundo não pode continuar a ignorar o sofrimento de milhões de pessoas que enfrentam uma luta diária para sobreviver. São precisos urgentemente fundos para salvar vidas e assegurar que as pessoas possam obter alimentos suficientes para sobreviver", declarou.
O Sudão do Sul tem um governo de unidade que foi instituído na sequência da materialização do acordo de paz de 2018. Apesar do declínio da violência devido ao conflito político, o país tem assistido a um aumento dos confrontos intercomunitários, motivado principalmente por roubos de gado e disputas entre pastores e agricultores nas áreas mais férteis do país, especialmente devido ao aumento da desertificação e do deslocamento da população.
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