Raptada pouco depois de nascer. Adoptada á força, maltratada, usada, explorada!
Tal como uma criança talibé, foste obrigada desde tenra idade a assimilar novas culturas, tradições, vivendo como estrangeira na tua terra, pedindo, implorando, sentindo medo, sofrendo em silêncio, escondendo os sonhos e as lágrimas.
Pedindo e servindo comida enquanto sofres com fome, vendo as outras crianças da tua idade irem á escola, brincarem com bonecas e carrinhos enquanto tu pedes esmola, calcorreias vilas e cidades a pedir, implorando sem chorar e sempre a sonhar.
A não teres vida própria porque a tua vida pertence a outros. São os teus donos que pensam e decidem por ti.
E um dia os teus pais biológicos vieram resgatar-te de quem nunca te respeitou. E tu que sempre choraste, gritaste e lutaste por esse momento abriste os braços á espera de um carinho, de amor, de bem-estar e felicidade!
E adormeceste feliz nos braços de quem te pariu, de quem te perdeu, e de novo te encontrou.
E sonhaste com o futuro, os teus filhos na escola, os teus pais respeitados e tratados como iguais, os teus avós alimentados e resguardados para uma velhice feliz. De Justiça, de Educação Para Saúde, de Saúde igual para todos.
E acordaste com o sabor e o cheiro novo de uma liberdade tanta vez sonhada mas nunca vivida.
Mas por pouco durou o teu estado de graça e felicidade. Os teus pais biológicos tinham perdido os laços umbilicais. Aquilo que a genética uniu, foi separado pela ganância, a ambição desmedida, e a luta pela posse dos teus bens.
E de novo ficaste entregue a ti própria. Sozinha, abandonada, perdida.
De novo qual criança talibé remas sozinha contra ventos chuvas e marés. Usam o teu trabalho, o teu esforço, para viverem e enriquecerem. Alimentam-se de ti, do teu trabalho, das esmolas que pedes e pedem em teu nome, e em troca oferecem-te os restos, e tu continuas, com um sorriso nos lábios, com os sonhos adormecidos mas nunca perdidos, a acreditar que um dia eles vão reconhecer-te como filha legítima, com direitos adquiridos, com vontade própria.
E vais crescendo, e dentro de ti vai crescendo também alguma raiva incontida, muita vontade, um imenso amor-próprio perdido mas de novo encontrado.
E vais descobrir que já não és criança, que crescente, que os teus sonhos afinal são possíveis de realizar. Que te vais libertar das amarras em que te mantiveram refém tanto tempo!
E sentes mais do que nunca que a tua hora chegou!
DEFINIÇÃO DE TALIBÉ
Talibé é uma palavra de origem árabe e significa discípulo ou seguidor. No Senegal talibé é o termo usado para um menino que é obrigado a mendigar pelas ruas como parte de sua educação Corânica.
Talibés são crianças com idades entre 5 e 17 anos que são enviadas por seus pais para os Marabus, a fim de que estes ensinem a elas a educação Corânica. Talibés, assim como crianças de rua, são facilmente reconhecíveis em todo Dakar através dos trapos que elas vestem e pelas latas de extrato de tomate que balançam em torno de seus pescoços.
Marabus são líderes muçulmanos altamente respeitados pela população e pelas autoridades locais. Um Marabu pode ter entre 15 e várias centenas de talibés sobre seus cuidados a depender de sua reputação. Sua missão é ensinar a educação corânica aos talibés. Esta formação é acompanhada por iniciações práticas na vida da comunidade, para adquirir o senso de humildade e resistência em todos os tipos de provações.
Os talibés vivem muitas vezes em condições desumanas, onde fome, sede e doenças são terrivelmente excessivas. Mendigar é parte da educação corânica. Durante o dia, os marabus enviam os seus talibés para às ruas para que eles possam mendigar. Os marabus exigem uma quota equivalente a um dólar por dia, e se o talibés não atingem essa meta, eles são espancados pelos seus “educadores”. Estima-se que os talibés já representam mais de 120 mil da população no Senegal.
Mesmo que eles recebam alguma educação de seus professores religiosos, esta educação é tão ínfima que não é capaz de poporcionar à eles sequer um emprego decente. A conseqüência é que os talibés no futuro se tornem discípulos de seus marabus ou fiquem desempregados. -
Marcelo Marques-via facebook
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