O secretário-geral da ONU tem como interlocutor fulcral o Conselho de Segurança, dominado pelos cinco membros permanentes - China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia - que têm direito de veto e cujas posições refletem as oscilações da geopolítica global, tornada acrescidamente incerta pelo imponderável da futura presidência norte-americana.
Guterres, 67 anos, irá tomar posse perante a assembleia-geral dos 193 países membros da ONU fazendo um juramento sobre a Carta das Nações Unidas, numa cerimónia em que Portugal estará representado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e pelo primeiro-ministro, António Costa.
No discurso inaugural após a tomada de posse, o novo secretário-geral da ONU deverá traçar as linhas mestras do seu "programa de governo", desde a resposta às crises globais até ao muito aguardado e muito adiado processo de reforma da pesada maquinaria institucional da organização de 71 anos.
O ex-alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados já colocou o alcançar um fim para o conflito na Síria como tarefa prioritária para o início do mandato como secretário-geral e segundo fontes diplomáticas na ONU já manifestou empenho em desenhar um plano de ação que permita alcançar uma solução política para a guerra que devasta a Síria há cinco anos e que acrescenta volatilidade a uma região de notória instabilidade.
Analistas consideram, no entanto, que a eleição de Donald Trump - que anunciou como trave-mestra da sua política externa o reforço dos interesses de Washington, ao contrário da tendência multilateralista do atual Presidente, Barack Obama - irá complicar e dificultar a ação do novo secretário-geral da ONU.
António Guterres, "inspirou uma vaga de boa-vontade diplomática durante o processo de seleção do secretário-geral e parecia ter conseguido garantir uma transição serena, mas no cenário atual terá dificuldade em propor reformas institucionais ou iniciativas políticas significativas até que a nova administração norte-americana entre em velocidade de cruzeiro", considerou, citado por agências internacionais, Richard Gowan, especialista em assuntos da ONU no Conselho Europeu de Relações Externas.
Os Estados Unidos são o principal contribuinte para as finanças da ONU, garantindo cerca de 22% do orçamento de despesas correntes da organização e cerca de 28% dos cerca de oito mil milhões de dólares (7,55 mil milhões de euros) anuais gastos pela missões de manutenção ode paz das Nações Unidas.
Diplomatas do Conselho de Segurança consideram que Guterres "será um secretário-geral político".
Desde que foi aclamado pela Assembleia-geral da ONU em outubro, António Guterres já tratou de visitar as capitais e de se reunir com os líderes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança.
Um dos primeiros atos de António Guterres depois de tomar posse na segunda-feira deverá ser o anúncio da nomeação do vice-secretário-geral e do seu chefe de gabinete, com analistas a anteciparem que os dois lugares-chave serão ocupados por mulheres. Guterres já afirmou que as questões de igualdade de género no interior da ONU vão merecer atenção particular no seu mandato.
A ministra do Ambiente da Nigéria, Amina Mohammed, é tida como a principal candidata ao cargo de vice-secretário-geral.
António Guterres vai iniciar o seu mandato de cinco anos em 01 de janeiro de 2017, três semanas antes da outra tomada de posse, esta em Washington, que o mundo aguarda com expetativa.
NAOM
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