domingo, 28 de julho de 2019

Para líder ambientalista, África precisa apostar em mulheres competentes e qualificadas

Dra. Elsa Garrido - Líder do Partido Verde STP

Ela é conhecida por defender o meio ambiente e políticas de sustentabilidade. O seu último protesto foi em 2017 contra a introdução de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) nas Ilhas de São Tomé e Príncipe, o que culminou em uma greve de fome de 19 dias. Em 2017 ajudou a fundar o Partido Verde de São Tomé e Príncipe, do qual hoje é líder e presidente.

No ano passado tornou-se a primeira mulher a ser cabeça de lista nas eleições legislativas, concorrendo assim ao cobiçado cargo de primeira-ministra. Em entrevista à Voz da América, a humanista, ativista e líder do Partido Verde, Elsa Garrido, falou sobre a liderança feminina em África e em São Tomé e Príncipe, a greve de fome que fez em 2017, e a campanha solidária Rede de Tábuas e Pregos”.


O aumento dos crimes ambientais no arquipélago nos últimos quatro anos foi uma das razões que motivou Garrido a entrar na política, pois o trabalho que desenvolvia em associações e ONGs era limitado, já que não influenciava as leis no país. Outra razão foi servir de inspiração para que jovens e mulheres participem e entrem na política.

"Eu espero estar assim a contribuir de uma forma indireta no que chamamos de empoderamento da mulher".

As mulheres precisam superar muitas dificuldades na política, principalmente quando se vive numa sociedade patriarcal. Garrido disse que mulheres com perfil ativo, assim como ela, acabam gerando, confusão, curiosidade e irritação. Ela contou que em São Tomé e Príncipe não há muitos exemplos de mulheres que sejam ao mesmo tempo ativistas, políticas, humanistas e tenham suas vidas pessoais e profissionais.

"Somos constantemente postas à prova, inclusive infelizmente por mulheres que podem sentir-se ofuscadas por essa nova maneira de fazer liderança. Os homens, infelizmente, ainda temos aqueles que praticam machismo direta ou indiretamente. Não aceitam uma mulher na liderança, e principalmente quando essa mulher resiste as suas ordens, questiona a liderança masculina e propõe outra coisa, então a reação é muitas vezes-virulenta, rancorosa e fazem de tudo para justamente aniquilar esse perfil".

No entanto, a líder do Partido Verde disse que esses ataques só ajudam a fortalecer e agradeçou as pessoas que as criticam.

Garrido aconselhou todas as mulheres a ousarem, não terem medo e apostar no desenvolvimento. Para ela, as mulheres trazem o bom senso e menos egocentrismo na tomada de decisões políticas.

"Não faz sentido termos lideranças feitas unicamente por homens. É muito importante que numa equipa tenhamos uma boa quantidade de mulheres. Também somos capazes de propor."

Garrido acrescentou que o importante é que a mulher seja competente e que possa contribuir de maneira positiva. Ela falou que a questão de cotas para ter mais mulheres na política merece mais debate.

"Se for para por mulheres em cargo de relevo simplesmente por ser mulher parece quase um insulto".

Garrido é grande admiradora de Wangari Muta Maathai, a primeira mulher africana a receber o Prêmio Nobel da Paz. Maathai fundou o Green Belt Movement, uma organização não governamental ambiental concentrada em plantação das árvores, conservação ambiental e direitos das mulheres.

"É sempre um orgulho ver mulheres contribuindo ativimatente no desenvolvimento das comunidades, bairros, no país e no mundo".

A ativista e humanista espera poder mostrar com o seu trabalho que a mulher pode propor, cometer erros, trabalhar e ter sucesso sem estar em constante competição. Para ela, o homem e a mulher devem complementar-se - valorizar-se, respeitarem-se.

Protesto contra o milho geneticamente modificado

Elsa Garrido comentou o protesto que levou ela a fazer uma greve de fome de 19 dias em frente à Embaixada de São Tomé e Príncipe em Lisboa a fim de lutar pelo direito de debater a questão dos organismos geneticamente modificados, o direito à informação e a liberdade de expressão.

Ela disse que foi a primeira vez que um são-tomense usou um protesto tão radical. Também lembrou que algumas pessoas ajudaram a explicar o que estava a acontecer, mas que o poder na altura continuou a ter uma reação negativa.

"Alguns gozaram, alguns riram. Duvidaram da sinceridade do protesto apesar de estar em direto".



Projeto "Redes de Tábuas e Pregos"

A ONG Terra Verde São Tomé e Príncipe está ajudando uma senhora, mãe de quatro filhos. Dona Rosa está desalojada e a dormir no chão. Segundo Garrido, a ONG criou esta campanha para recolher os materiais de construção e assim que coletarem o suficiente a data de construção será anunciada nas redes sociais. A construção da casa poderá ser acompanhada em direto pelo Facebook.



VOA

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