© AFP via Getty ImagesPOR LUSA 02/08/23
Níger. CEDEAO diz que intervenção militar será última opção
Uma intervenção militar no Níger seria "a última opção em cima da mesa" para restaurar o regime do Presidente nigerino, Mohamed Bazoum, derrubado por um golpe de Estado a 26 de julho, indicou hoje fonte da CEDEAO.
O comissário da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) responsável pelos Assuntos Políticos e de Segurança, Abdel-Fatau Musah, admitiu, porém, que "todos têm de estar preparados para essa eventualidade".
"A opção militar é a última opção em cima da mesa, o último recurso, mas temos de estar preparados para esta eventualidade", sublinhou Musah, que falava na abertura de uma reunião de chefes do Estado-Maior da África Ocidental em Abuja, na Nigéria, que deverá terminar na sexta-feira, dois dias antes do termo, domingo, de um ultimato da CEDEAO que exige o regresso à ordem constitucional.
O bloco oeste-africano ponderou, inicialmente, recorrer a uma intervenção militar para repor a legalidade constitucional, algo a que o líder da Junta Militar que tomou o poder, o general Abdourahamane Tiani, respondeu que recusa ceder a qualquer ameaça e que rejeita "totalmente" as sanções económicas entretanto impostas.
Ao mesmo tempo, os diplomatas russos apelaram ao "diálogo" para evitar uma "deterioração da situação", argumentando que "a ameaça de usar a força contra um Estado soberano não ajudará a desanuviar as tensões e a resolver a situação no país".
A CEDEAO, liderada atualmente pelo Presidente nigeriano, Bola Tinubu, impôs pesadas sanções a Niamey. A organização oeste-africana deu aos golpistas um prazo até domingo para reporem Mohamed Bazoum no seu posto, sob pena de recorrer à "força".
Em conformidade com as sanções, a Nigéria cortou o fornecimento de eletricidade ao Níger, que depende em 70% da energia do país vizinho.
Uma delegação da CEDEAO, chefiada pelo nigeriano Abdulsalami Abubakar, encontra-se atualmente em Niamey para "negociar" com os golpistas, segundo um responsável da organização.
A junta que derrubou o presidente Mohamed Bazoum a 26 de julho e que o detém desde então enviou um emissário, o general Salifou Mody, ao Mali, segundo responsáveis nigerinos e malianos.
O Mali e o Burkina Faso, vizinhos do Níger, são liderados por militares que também chegaram ao poder através de um golpe de Estado, o primeiro em 2020 e o segundo em 2022, e já anunciaram apoio ao movimento golpista no Níger, afirmando que qualquer intervenção armada seria considerada "uma declaração de guerra" contra os seus dois países e levaria à sua retirada da CEDEAO.
Na segunda-feira, a Junta Militar acusou a França, antiga potência colonial, de querer "intervir militarmente", o que Paris negou firmemente.
Paris e Roma estão a retirar os seus cidadãos e os estrangeiros que o desejem, incluindo portugueses, cabo-verdianos, norte-americanos, canadianos, belgas, alemães, austríacos, nigerianos, etíopes e libaneses, num total de mais de 1.500.
Paris justificou a operação com os "atos de violência que tiveram lugar" contra a embaixada no domingo, durante uma manifestação hostil à França, e com o "encerramento do espaço aéreo".
Já hoje, num discurso transmitido pela televisão na véspera do dia da independência do país, antiga colónia francesa, Tiani afirmou que os franceses "não têm nenhuma razão objetiva para deixar o Níger", pois "nunca foram objeto de ameaças".
Na terça-feira, a junta anunciou a reabertura das "fronteiras terrestres e aéreas" do Níger com cinco países vizinhos (Argélia, Burkina Faso, Líbia, Mali e Chade).
Por enquanto, "em Niamey, não há nenhuma tensão particular na cidade, nenhuma tensão particular, as pessoas estão a tratar dos seus assuntos", descreveu um funcionário da União Europeia (UE) no Níger, à chegada a Paris.
"A certa altura, havia um sentimento de insegurança, sabíamos que tudo podia mudar", contou, aliviada, Raïssa Kelembho, que regressou do Níger com os seus dois filhos. O marido ficou a trabalhar em Niamey.
A França, antiga potência colonial na região e firme apoiante do Presidente Bazoum, parece ser o alvo principal dos soldados que o derrubaram.
A retirada dos cerca de 1500 militares franceses estacionados no Níger "não está na ordem do dia", segundo o quartel-general das forças armadas francesas.
Para os Estados Unidos, diplomaticamente, o que sucedeu no Níger ainda não pode ser considerado um golpe de Estado, uma vez que "existe uma "pequena janela de oportunidade" para a diplomacia e para o restabelecimento do Presidente Bazoum, a quem o Secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmou o "apoio inabalável" de Washington.
O Níger é um dos países mais pobres do mundo, apesar dos recursos de urânio. Assolado por ataques de grupos ligados ao Estado Islâmico e à Al-Qaida, é o terceiro país da região a sofrer um golpe de Estado desde 2020, depois do Mali e Burkina Faso.